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Narrações de experiências urbanas por meio de slams de poesia de São Paulo

RAMOS, G. T. Narrações de experiências urbanas por meio de slams de poesia de São Paulo. Artigo apresentado no XVII Encontro Nacional da Anpur (Enanpur): Desenvolvimento, crise e resistências: quais os caminhos do planejamento urbano e regional? São Paulo, 22 a 26 de Maio de 2017, Sessão Temática 6: Espaço, Identidade e Práticas Sócio-culturais. Publicado originalmente nos Anais do XVII Enanpur. Disponível em: https://anais.anpur.org.br/index.php/anaisenanpur/article/view/1776/1755. Acesso em 17 de março de 2023. 

Gabriel T. Ramos

Resumo: Este artigo abarca conceitos, apontamentos e possibilidades de nossa recém-iniciada pesquisa, em que objetivamos investigar narrações de experiências urbanas contemporâneas, com estudo de caso os slams de poesia da cidade de São Paulo. Partimos da hipótese que tais narrações de experiências poderiam enfrentar à produção neoliberal urbana pois romperiam com as individualizações, violências e pulverização de diferenças. Com isso, pretende-se analisar relações imbricadas entre práticas e espaços, por meio da observação de espacialidades, territorialidades e temporalidades produzidas por essas manifestações, que modificariam tanto elas próprias e aqueles que as trocam, quanto, por conseguinte, a própria cidade, compreendida a partir de conceitos de agenciamento, experiência e narração, e as noções de cotidiano e coletivo presentes nas narrações e articulações entre os narradores e a cidade.

Palavras Chave: Experiências urbanas. Narração. Agenciamento. Cidade neoliberal. Slams de poesia

Abstract: This article covers concepts, notes and possibilities of our recent doctorate's research in which we aim to investigate narratives of contemporary urban experiences focused on the poetry slams of São Paulo. Our hyphothesis is that narratives of experiences could face the neoliberal urban production because it could break up the individualization, violence and crush out the differences. Therewith is intended to analyze relations between practices and spaces through observation of spacialities, territorialities and temporalities produced by these manifestations that could modificate themselves and those practicers  who switch poems and also the city as itself, understood by concepts of assemblance, experience and narrative and the notions of everyday life and collective in the narratives and articulations between the narrators and the city

Keywords: Urban experiences. Narrative. Assemblance. Neoliberal city. Slam poetry.

Introdução

A cidade não é feita somente pela disciplina do Urbanismo, mas por diferentes camadas tecidas por aqueles que a usam e dela se apropriam, em incontáveis manifestações, como as narrações que ocorrem em espaços da cidade de São Paulo por meio dos slams de poesia [1], que consistem em declamações poéticas em locais públicos e privados, em que o poeta versa, em formato de batalha, durante três minutos, sobre diversos temas ligados à sua vida. Dessa forma, colocar o corpo na cidade e narrar o cotidiano se trata de um jogo de disputas.

 

Por um lado, enxergamos essa produção urbana delegada exclusivamente aos seus fazedores oficiais e compartícipes mercantis e diversos aparatos de policiamento, coerção e vigilância, que, na maioria das vezes, relegam aos habitantes da urbe o local de contemplação e docilização. Notamos, por outro, de igual importância, as linhas de demarcação do Urbanismo se alongarem e possibilitarem maiores trocas durante seu percurso histórico. Vimos surgir, ao longo dos séculos, expressões críticas, utópicas e ideológicas, elaboradas por pensadores de diferentes contextos, questionando a produção de cidade, encampadas como parte do que se compreende pelo campo disciplinar do Urbanismo. Muitos questionamentos acerca do lugar das pessoas na urbe e das formas de participação de sujeitos ordinários foram elaborados por intelectuais provenientes de diferentes áreas e saberes, proporcionando ao campo outras relações com áreas críticas ao modo hegemônico de fazer cidade, abrindo horizontes para o debate.

 

Na virada da globalização, porém, com o fortalecimento do discurso e pensamento únicos (Santos, 2001; Arantes, 2000) de que a cidade seria um dos eixos do capital, transformando-se numa suposta mercadoria imaterial, poucas foram as intervenções urbanísticas que proporcionaram contrapontos a esse pensamento e, com isso, o maior acesso de usuários menos favorecidos a essa cidade. Notamos isto em discursos e dispositivos (Foucault, 2009; Agamben, 2005) [2]que determinam modos específicos de uso dos espaços e disposição dos corpos neles, mostrando não uma economia meramente política, mas produções de subjetividade (Guattari, 1992) [3], ou seja, uma "economia subjetiva" engendrada na lógica neoliberal dessas economias (Lazzarato, 2014), direcionando a urbanização, predominantemente, por meio de instrumentos de gentrificação, turistificação e militarização urbana, numa gestão da vida e dos corpos. Dessa forma, a produção capitalística, naturalizada por muitos planejadores como agente principal desse esquema de urbanização pós-industrial, desenvolveu -se ainda mais e as tornou mercadorias a tal modo que processos especulativos nos grandes centros urbanos têm gerado distâncias — geográficas, sociais, econômicas — daqueles que não os acessam em sua plenitude, ou seja, aqueles que não podem pagar por elas.

Todavia, se considerássemos somente essa produção dita oficial da urbe, não faria sentido nossa primeira afirmativa neste texto. Além disso, provavelmente, teríamos a sensação de que não haveria outras formas de vida que escapariam às operações capitalísticas e nada além pensaríamos. Assim, na própria configuração do alijamento urbano, acontecem suas fissuras, por nós observadas em significativas narrações e produções de cidade. Negros, mulheres, pobres, jovens, transexuais, entre inúmeras minorias, reivindicam uma cidade que os inclua, mostrando diferentes usos, ocupações, manifestações e rebeliões. Notamos algo que já acontecia, mas que, com a expansão do uso e acesso a mecanismos audiovisuais, internet e dispositivos eletrônicos, a cidade é produzida e clamada em instâncias e territórios diversos. Concomitantemente, é consumida por esses sujeitos (Certeau, 2013), amplificando-se de tal modo que sua dimensão se expande por meio de narrações de experiências (Benjamin, 1987) urbanas, que, ao mesmo tempo, não deixam de ser transformadas por instrumentos capitalísticos, já que essa disputa não para de acontecer.

Desse modo, por um viés diferente da incorporação daquilo que escaparia à disciplina, apostamos no que poderia contaminá-la, confundi-la e, sobretudo, estimulá-la à escuta. Por conta disso, acreditamos que as narrações de experiências urbanas cotidianas de slams de poesia da cidade de São Paulo poderiam tanto atualizar as práticas e aqueles que as trocam, como, por conseguinte, a cidade, podendo enfrentar a produção neoliberal, primada por individualizações, violências e pulverização de diferenças, além de criar outros parâmetros para o direito à cidade.

 

Dessa maneira, em sequência, tomaremos um posicionamento que visa apresentar a relação completamente imbricada entre a produção urbana e a vida por ela mesma, enquanto vivenciar e experimentar espaços, saberes, conhecimentos, corpos, lugares. Para isso, apresentaremos, sucintamente, o contexto do objeto que almejamos estudar para esta pesquisa, na conjuntura de narrações poéticas da cidade de São Paulo, os slams de poesia. No segundo momento, apresentaremos duas vertentes de naturezas distintas, porém simultâneas, que se debruçam conceitualmente sobre a vida contemporânea nas cidades, angariando problemáticas específicas, pensadas sob relações do poder sobre a vida e da potência da vida. Por fim, encamparemos a discussão de narrações que produzem outras conexões nos espaços da cidade, no contexto da vida contemporânea, compreendida pela necessidade de estudo de noções e conceitos basilares para essa pesquisa, como narração, experiência, cotidiano, agenciamento e coletivo.

Slams de poesia em São Paulo

O lugar da poesia é bem out, o lugar da poesia é bem out mesmo, é bem deslocado. A recepção é bem oblíqua, enviesada, tonta mesmo, a recepção é dificílima, eu aprendi isso desde garoto, e fomentei em mim uma ojeriza a um culto da ignorância que grassava muito entre os poetastros. A maioria deles abdicou de toda e qualquer poesia, não faz mais absolutamente nada que se relacione com poesia (Salomão, 2005:84).

Na cidade de São Paulo, no fim dos anos 1980, emergem manifestações de cunho estético-políticos da cultura Hip-Hop nos espaços de periferia urbana. As práticas são compreendidas enquanto movimento quando conectadas pelos seus quatro elementos característicos: a música, com um DJ que controla a batida; a poesia de um MC que narra versos; a dança do break realizada por um B.Boy; e a pintura do graffiti que reflete graficamente o que se narra. Todos os componentes dialogam com a conscientização da vida dos moradores de periferia, com foco especialmente nas crianças e jovens, no entendimento de seu cotidiano como intimamente ligado a segregações, observadas nas diferentes expressões, produzidas em enunciados repletos de reivindicações, como direitos de inclusão e igualdade (étnicas, sociais, geográficas, etc.), bem como o caráter coletivo, de reconhecimento e validação das manifestações como formas de se manterem enquanto produção politicamente engajada e fortalecida.

 

No decorrer do percurso de produção, por meio de iniciativas dos manifestantes, com um processo cada vez maior de expansão urbana e consequente periferização dos menos favorecidos economicamente, as práticas foram igualmente ampliadas, passando a ser constituídas, já na virada nos anos 2000, como amplamente relevantes na dimensão cultural, estética e política, tornando-se eixo para apreensão da produção urbana da cidade e ampliação do direito a ela.

 

Dessa maneira, alcançaram outros espaços e também se transformaram em estilos e produtos adequados mercadologicamente, mesmo se mantendo como produções bastante efervescentes e engajadas.Nesse contexto de expansão, formas de expressão foram sendo amplificadas na periferia, focando-se em cada manifestação como ocorreu com a poesia, que passou a ter um espaço profundamente relevante no cenário. Um dos grupos que iniciaram este movimento foi a Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), fundada pelo poeta Sérgio Vaz em 2001, e compreendida por ele como “movimento cultural de resistência na periferia" (Vaz, 2008). A cooperativa iniciou suas atividades em Taboão da Serra (SP), num galpão abandonado, tendo, logo no evento de inauguração, de cunho artístico e cultural, lançamentos de livros de Vaz e também de Ferréz, que juntos encabeçaram o movimento.

 

A Cooperifa ficou bastante conhecida, tornando-se referência para outros movimentos culturais de periferia no Brasil, com eventos semanais de saraus de poesia e outras atividades, que podem ser acompanhadas em sua agenda de atividades através de website [4]. Nessa dinâmica, muitos daqueles que moravam no centro passaram a se interessar pelos saraus da Cooperifa, frequentando

-o, de tal maneira que, gradualmente, os poetas periféricos foram rumando a locais centrais da cidade, ocorrendo forte intercâmbio cultural, com transformações dos linguajares e modos de expressão daqueles que não moravam na periferia, mas se identificavam, de certa forma, com o movimento. Essa transição culminou num movimento novo, inspirado em acontecimentos semelhantes de outras cidades mundiais, os slam poetry, que Sérgio Vaz (2008), em seu livro "Cooperifa: antropofagia periférica", contextualiza, no então cenário da cooperativa, por ele chamada de "Poesia das Ruas".

Poesia das Ruas pretende se inserir no movimento poético social que nos Estados Unidos se denomina slam ou spoken words. Surgido em Chicago em 1985 por iniciativa do escritor Marc Smith, que organizava competições de poesia no Bar Green Mill, o slam ganhou popularidade com o filme homônimo de Marc Levin no final da década de 1990. O sucesso deste filme na Europa propagou o slam no velho continente, principalmente na França, fazendo de Paris a capital mundial dos slameurs, como se define por lá, os poetas urbanos adeptos do slam. (Vaz, 2008:217).

Observados em diferentes cidades brasileiras, os slams de poesia se configuram como movimentos presentes em circuitos locais, nacionais e internacionais, em que poetas se reúnem para declamar poesias, nos formatos de "batalhas", versadas em tempo cronometrado (três minutos) e com júri escolhido ou do público. No contexto da cidade de São Paulo, por seu porte e alcance, observamos a insurgência de significativos grupos, em diferentes pontos da cidade, dos quais podemos destacar: Slam da Resistência, Slam da Guilhermina, Slam das Minas, Slam da Ponta, Slam Função, Slam do Grito, Slam 13, ZAP Slam. Muitos desses slams se articulam a outras instituições públicas — como museus de arte e locais universitários —; locais privados, como bares, restaurantes e, principalmente, os Sesc's, que têm exercido relevante papel na difusão e promoção dessas práticas; e, de nosso interesse específico, em espaços públicos como praças, terminais e estações (ativas e inativas) de ônibus e metrô, em bairros como Guilhermina, Centro, Vila Mara e Santo Amaro.

Nossa intenção em estudar esses grupos se reflete na postura de enfrentamento que as narrações constituem, tanto nas conexões possíveis entre suas falas e realidades, quanto na insistência em permanecer nos espaços urbanos, em meio a intervenções de expulsão da juventude negra, periférica, artística, interessada em reivindicar seu espaço. Notamos narrações com entonações específicas, raivosas, que apostam bastante na poesia enquanto modo de transformação social.

Além disso, acreditamos que há especificidades nas práticas que podem dar pistas para a compreensão de processos de uso e apropriação urbana. Observamos, a priori, três tipos de produção por meio de narrações e gestualidades, bem como das conexões entre os poetas e a cidade, a saber: temporalidades — que se expandem do tempo cronometrado e permanecem nos agenciamentos entre os narradores, o espaço e as narrações, além de se produzirem permanências nas repetições dos eventos; espacialidades — nos usos limiares dos espaços, manifestando-se por outras qualidades de uso e polivalência dos espaços de entorno, bem como uma relação muito forte com a internet e a difusão da prática; e territorialidades — nas disputas pelo território, bem como produção de outras fronteiras, destoantes das demarcadas social, econômica e geograficamente, que acabam por tensionar as próprias noções de periferia/centro.

Por fim, acreditamos ser importante assinalar que há uma gama de publicações, teses e artigos que se debruçam sobre a produção artística e cultural da periferia, especificamente sobre a produção cultural em torno da Cooperifa, as quais ainda estamos tomando conhecimento para nossa pesquisa. No entanto, a priori, podemos afirmar que poucas se relacionam ao contexto de produção urbana como também são parcas as que falam dos slams no Brasil, contudo, destacamos uma crescente apologia para que tais práticas também se constituam como uma literatura, como já ocorrido com Vaz, Ferréz e outros escritores de periferia contemporâneos.

Essa literatura, em meio a disputas por reconhecimento e demarcação de um gênero -“literatura marginal” - e suas contestações, tem buscado espaço também através da construção de interfaces virtuais, uma vez que a disputa pelo mercado editorial nas grandes editoras mostra-se pouco porosa e quase inacessível. Notamos estratégias como o surgimento de pequenas novas produções independentes e também pequenas editoras cujos modos de operar se mostraram mais acessíveis. Identificamos também a elaboração de conteúdos digitais, produzidos e difundidos por redes sociais, páginas pessoais, sites especializados em “cultura da periferia”, por onde circula uma infinidade de registros impossíveis de serem capturados em sua totalidade (Pereira, 2015:36)

 

Com isso, trataremos a seguir de apresentar conceitualmente a disputa entre as relações de poder constituído que por vezes cerceiam as práticas e os narradores, sendo necessário compreender como se configuraria a vida contemporânea nas cidades, através de autores da Filosofia e Ciências Sociais. Além disso, posteriormente, conceitos de experiência, narração e agenciamento e as noções de cotidiano e coletivo serão apresentadas para nos auxiliarem a problematizar a pesquisa, bem como pensar uma metodologia bastante próxima ao cotidiano das práticas.

Entre biopoder e biopotência

Se pudéssemos chamar de ‘bio-história’ as pressões por meio das quais os movimentos da vida e os processos da história interferem entre si, deveríamos falar de ‘biopolítica’ para designar o que faz com que a vida e seus mecanismos entrem no domínio dos cálculos explícitos, e faz do poder-saber um agente de transformação da vida humana (Foucault, 1988:134).

Pensar a vida contemporânea nas cidades entremeada a práticas cotidianas, como os slams de poesia, requer-nos afirmar, por um viés, a submissão histórica de nossa existência às organizações sociais da espécie, que se aperfeiçoou na fabricação de aparelhos de disciplina e controle, que operacionalizam bastante a vida, e mais agressivamente ainda a daqueles que usam os espaços urbanos. Em prol de uma suposta ordem, o maquinário se tornou corpuscular e ganhou, cada vez mais, novas possibilidades de adestramento, uma verdadeira biopolítica (Foucault, 1988) que gere a vida por operações de governo e gestão dos homens devidamente calculadas.

 

Nesta linha de pensamento, adotamos dos gregos a definição do que se compreendia por vida, e a consideramos por dois significados: zòe, a vida por ela própria, enquanto espécie da vida animal, na condição de ser vivente da casa (óikos); e bíos, a vida qualificada, na singularidade da existência humana pública da cidade (pólis) e, assim, na condição de ser político (Arendt, 2007). Arendt aposta que essa divisão estrita entre público e privado começa a ser tratada de maneira diferente através das traduções do que se compreendia por político (do grego), para o que foi designado como social (do latim). Isso ocorreu, supostamente, devido à condição humana de viver uns com os outros, a partir da alteração de uma política (politiké), a administração da pólis, para uma

economia (oikonomos), a gestão da casa. Contudo, para os gregos, ainda com Arendt, os homens também poderiam viver sós, devido à sua animalidade (zòe), tradução que, para a autora, transformou nossas vidas a partir de sua domesticação.

Observando as emergências dessas transformações, Foucault nos indica que, até o século XVI, o soberano detinha o poder de “causar a morte ou deixar viver” (Foucault, 1995:199), ou seja, em nome de seus súditos, defendê-los e tirar a vida de qualquer um que ameaçasse as suas. Todavia, a partir do período seguinte, há um investimento maior do poder sobre a vida, sob duas vertentes: o poder de “causar a vida ou devolver à morte” – no primeiro, o corpo como uma máquina,

treinada, dócil, útil, ampliada em suas aptidões, ou seja, disciplinada; no segundo, o poder através dos instrumentos de transformação do “corpo-espécie” com auxílio dos campos de estudo que surgiram, como a Sociologia, a Estatística e o Urbanismo. Nestes, fazem-se presentes os “suportes dos processos biológicos”, ou seja, os dispositivos de regulação da vida a partir de “uma biopolítica da população”: uma economia (gestão) dos corpos (Idem). Por esta primeira perspectiva, há uma aposta na sociedade de controle pelo aparato de Estado e suas formas de governo, de modo que o poder soberano seria capaz de “manter o seu direito natural de fazer qualquer coisa em relação a qualquer um, o 'direito de violência e punição'” (Ferraz, 2014:64). Tal perversidade pode ser vista nas cidades, particularmente, a partir dos mecanismos de policiamento que cerceiam as vidas de todos e mais ainda das minorias, como os negros, mulheres, homossexuais e moradores da periferia, mascarando a possibilidade de se ter liberdade.

O Estado já não se destina tanto a assegurar a integração dos diferentes níveis da vida coletiva quanto a ordenar as sociedades de acordo com as exigências da concorrência mundial e das finanças globais. A gestão da população muda de método e significado. Enquanto no período fordista a ideia predominante era, segundo a expressão consagrada, a "harmonia entre eficácia econômica e progresso social", hoje, no contexto de um capitalismo nacional, essa mesma  população é percebida apenas como um "recurso" à disposição das empresas, segundo uma análise em termos de custo-benefício. (Ibidem:284).

 

Por conta dessa complexidade da trama urbana contemporânea, a proposta desta pesquisa se esquiva de afirmações dicotômicas de heroísmo e vilania, identificados numa suposta relação Estado-mercado-policiamento (poder) versus cidades e seus usuários (potência). Num outro sentido, concentramos nosso debate no cerne desta concepção neoliberal de cidade, onde observamos que as narrações de experiências urbanas, bradadas nos slams espalhados pela cidade de SP, parecem enfrentar à produção neoliberal ao apresentarem questões de cerceamento dos espaços, fissurando estética e politicamente as incontáveis formas de violência estabelecidas pelo Estado e seus mantenedores neoliberais, sendo um contraponto para repensarmos, enquanto urbanistas, como inserir no debate o direito à cidade. Contudo, para melhor compreender isto, precisamos aprofundar algumas dessas noções e conceitos.

 

No segundo viés da abordagem da vida contemporânea, praticamente oposto ao anterior, tomamos a noção de liberdade, trazida por Deleuze a partir de Espinosa. Para essa compreensão, apresenta-se, inicialmente, seu contrário: a servidão, entendida como "impotência humana para regular e refrear afetos" já que estaria ao poder sujeitado sendo "muitas vezes forçado, ainda que perceba o que é melhor para si, a fazer, entretanto, o pior" (Espinosa, 1983:P.IV, Pref.). Deleuze nos auxilia a compreender que haveriam afecções como condicionantes dos afetos que, por sua vez, seriam as variações provocadas pelas afecções [6].

Dessa forma, a possibilidade de resistir ao condicionamento ocorrerá na compreensão para discernir os afetos, que estão tanto na servidão quanto na liberdade. Espinosa propõe assim que quanto mais esforço (conatus), mais escolhas e "bons encontros", que por sua vez aumentam a "potência de agir"; tornamo-nos mais capazes de afetar e sermos afetados. Na leitura recente de Espinosa, autores passaram a inverter a lógica do biopoder apostando numa biopotência, conforme Pélbart (2013) aponta:

Aquilo que parecia submetido, subsumido, controlado, dominado, isto é, a vida, revela num processo mesmo de expropriação a sua positividade indomável e primeira. Não se trata de romantizar uma capacidade de revide e de resistência, mas sim de repensar a relação entre os poderes e a vitalidade social na chave da imanência. Poderíamos resumir esse movimento do seguinte modo: ao poder sobre a vida, biopoder, responde a potência da vida, biopotência. Ao biopoder responde a biopotência, ao poder sobre a vida responde a potência da vida. Mas esse “responde” não quer dizer uma reação, já que a potência se revela como o avesso mais íntimo, imanente e coextensivo ao próprio poder (Pélbart, 2013:21).

 

A positividade do pensamento de Pélbart, característica espinosiana, problematiza mais essa trama, retirando o ponto de observação das polaridades trazido pelos pensadores contemporâneos, colocando-o nos entremeios da disputa. Mesmo com toda a problemática das representações e simplificações, Pélbart tenta se esquivar da ideia exclusiva de controle-dominação-submissão da vida, dando importância para compreendermos muito mais o jogo que ocorre entre essa lógica de produção-cooptação-expropriação da vida como constante e latente, abrindo o horizonte do debate em torno da própria ideia de invenção, questão que consideramos importante para a compreensão desse movimento. Assim, destacamos que a mesma lógica que controla, ao mesmo tempo, possibilita escapes como os que podemos enxergar nas práticas dos slams, mesmo que esses escapes não sejam sólidos, mas temporários, tal qual um "vírus" que age quando consegue se inserir em um sistema aparentemente controlado.

Conceitos e noções para compreensão da problemática

Com Deleuze & Guattari, propomos pensar o conceito de agenciamento como chave para a compreensão de narrações poéticas na cidade contemporânea. Para os autores, há duas importantes questões a serem pensadas a partir dele. A primeira parte do ponto de que não haveria uma natureza humana anterior, a priori, ou seja, um sujeito do conhecimento (Fuganti, 2016) que supostamente teria um desejo superior a outras formas de existência; e a segunda, por sua vez, desqualifica verdades absolutas que tornaria o conhecimento algo "verdadeiro, imparcial e universal" (Idem). Em suma, os autores deslegitimam uma suposta interioridade ou essencialidade do sujeito.

 

Com isso, Guattari (2011) tomará Kafka como paradigmático para se pensar o desejo, não como sujeito-autor, mas sua literatura, a máquina Kafka (Idem), posicionando-se bastante diferente das tradicionais recepções de sua obra literária. As temáticas construídas em torno da culpa, submissão ou angústia serão criticadas tanto por Guattari apenas quanto com Deleuze, numa inversão do ponto de vista interpretativo de sua obra para uma análise do percurso do desejo, ou seja: de quais modos ele irá expressar-se, compor-se, decompor-se, distribuir-se, mas nunca, perder-se. A inversão da abordagem para a dupla de autores operacionaliza o que a máquina literária kafkiana faria com seu desejo e não o que ele deixaria de fazer; onde ele seria presente em vez de onde estaria ausente, num posicionamento crítico à tradição psicanalítica. Assim, a literatura de Kafka, para Deleuze e Guattari (2014), mesmo que não se refira a um povo, ou sendo ainda um "povo por vir", será povoada e coletiva, desse modo, poderá nos auxiliar na compreensão da dimensão política das práticas dos slams.

Desse modo, Deleuze & Guattari conceituarão, tendo como emblemática a literatura de Kafka, a chamada literatura menor. Essa nomenclatura não faz referência ao tamanho do alcance de uma língua, mas, àquilo que uma minoria pode exercer numa língua maior, nas suas possibilidades de decodificação. A compreensão de minoria tampouco faz referência à quantidade, mas a qualidades específicas que destoam do que vigora na língua maior. Para os autores, essa literatura tem características fundamentais, em que a língua é modificada e modulada por um "coeficiente de desterritorialização", ou seja, daquilo que não se pode, tampouco se consegue encaixar nalgum lugar, já que em Kafka havia a "impossibilidade de não escrever, impossibilidade de escrever em alemão, impossibilidade de escrever de outro modo" (Ibidem:35). Kafka era um judeu de Praga que escrevia em alemão (uma "linguagem de papel") e vivente da escrita, algo semelhante com o que enxergamos nas decodificações feitas pelas gírias, expressões, gestualidades dos poetas dos slams de poesia. Além disso, a literatura menor possui caráter político, ou seja, o enunciado jamais se remete a um sujeito, pois é coletivo, assim, tanto não há sujeito emissor do enunciado tampouco emitido, por mais difícil que pareça ser para a linguística e a representação. Na singularidade de um poeta, portanto, podemos intuir sua operação comunitária, que só existe por meio dessa, ou seja, "a enunciação literária a mais individual é um caso particular de enunciação coletiva" (Ibidem:151). Assim, de posse do que afirmam os autores, pensamos não no "sujeito poeta", mas, sim, o "poeta atual" e a "comunidade virtual" da qual ele faz parte.

 

Por conta disso, numa obra de conhecimento tal qual um a tese acadêmica, necessitamos pensar a narração por intermédio do sujeito-poeta, pois se não a compreensão ficaria dificultada. Contudo, é preciso entender que naquele cujo enunciado supostamente seria evocado, o ponto de vista se inverte: ele só enuncia porque há um enunciado comum que o possibilita a comunicação. Desse modo, na figura do narrador, por exemplo, exposta a seguir em Walter Benjamin, afirmamos o narrador enquanto alegoria, pois não seria um sujeito em si, mas, segundo Deleuze & Guattari, povoado e coletivo.

 

Na crítica da Modernidade, Walter Benjamin (1987; 1994) destacou que campos técnicos, como os comunicacionais, artísticos e científicos, levavam a sociedade ao caminho mais crédulo à verdade do que se comprova de maneira utilitária, tornando-se difícil ter a experiência de ouvir histórias. Nas palavras do autor, a sociedade sofreria um processo de “galvanização”, dando-se uma nova roupagem protetora e dourada para amenizar impactos de fora que aconteciam. Nesse instante, apresenta a noção de experiência (Erfahrung) imbricada à sua transmissibilidade, a capacidade de narrá-la a outrem e retirar, assim, algum sentido para nossas vidas.

Como um exemplo na qualidade da transmissão de experiência, Benjamin critica, em seu tempo, a ausência de narradores e faz mão de uma noção que lhe é muito cara: o “contador de histórias” (Erzähler), que se apresentaria sob dois vieses: o homem sedentário, entendedor das tradições e o estrangeiro, que conhece episódios de distintos locais pois viaja pelo mundo e muito conhece (Benjamin, 1987:198). No último momento em que discute sobre a experiência e sua transmissão, aproxima-se da literatura de Charles Baudelaire e toma a figura do poeta como aquele que enxerga as transformações de seu tempo, no cotidiano, principalmente, a partir do personagem flâneur e esboçará que experiência “é matéria da tradição, tanto na vida privada quanto na coletiva” (Idem:103) e, diferente da vivência (Erlebnis), “forma-se menos com dados isolados e rigorosamente fixados na memória, do que com dados acumulados, e com frequência inconscientes, que afluem à memória” (Ibidem). Assim, distingue experiência, Erfahrung, a partir da riqueza de sua transmissibilidade característica da tradição; de vivência, Erlebnis, que contém a pobreza de experiências da Modernidade.

Décadas à frente, num contexto pós-guerra, Giorgio Agamben (2008), leitor e editor de Benjamin, tomará uma posição mais radical, apostando que, mais do que um empobrecimento de experiências, não se era possível mais tê-las. Nesta leitura, Georges Didi-Huberman (2011) conecta-o a outro italiano, Pier Paolo Pasolini, escritor e cineasta, conhecido por seus trabalhos tão provocadores. Poucos meses antes da publicação do texto de Agamben (ambos os textos são de 1975), aponta Didi-Huberman, Pasolini apresenta uma problemática parecida, pois critica a miséria causada pelo fascismo italiano e constata "a morte dos vagalumes" (lucciole), por meio do que chama de “definição de caráter poético-literário” (Pasolini, 2012:112).

Ambos estão no mesmo contexto "neofascista", tal qual Benjamin, à sua época, esteve imerso entre

-guerras, numa latente preocupação com o presente. Entretanto, como bem aponta Didi-Huberman, nos autores, evoca-se "uma situação de apocalipse latente, onde nada mais parece estar em conflito" (Didi-Huberman, 2011:75) e, em tom apocalíptico acabam por cair num outro sentido: a busca por uma redenção e um apelo à insurgência de respostas ou caminhos novos. Na tese de Didi

-Huberman (2011), haverá uma mudança de perspectiva, pois ele apostará na sobrevivência dos vagalumes emergidos em lampejos cotidianos, esquivando-se de uma suposta salvação. Para nós, conseguimos aproximar os slams de poesia desta análise, contudo, mais do que sobrevida, acreditamos que suas manifestações são afirmações da vida, em conexões a outras vidas nos espaços urbanos.

 

Nos anos 1980, Michel de Certeau criticou uma produção de cidade que, para ele, tinha como objetivos a construção de "um espaço próprio", "um não tempo" e, principalmente, "um sujeito universal" (Certeau, 2013:173) que tentariam aniquilar experiências de alteridade na cidade. A inventividade de sua pesquisa vai na aposta em práticas transitórias, microbianas, cotidianas, observadas a partir do conceito de táticas que seriam linhas de fuga possíveis das membranas da estratégia, por dentro delas, nas suas possíveis decodificações. Nessa chave de leitura, Ana Clara Torres Ribeiro destacará a necessidade da compreensão dos gestos daqueles que experimentam o cotidiano de outras maneiras, sendo fundamental a observação e a escuta.

Existem elos (ir) relevantes entre cotidiano, lugar, indivíduo e pessoa. Através desses elos, tudo acontece e adquire sentido, permitindo a individuação e o pertencimento, e também nada importa ou tem significado, já que cada gesto pode ser envolto em enredos da cotidianidade alienada e na indiferença. (...) É nessas condições que a sociabilidade pode ser alimentada ou destruída por uma atitude, um gesto, uma palavra, um sorriso ou um olhar (Ribeiro, 2005:416).

Dessa maneira, precisamos considerar a observação e a escuta desse cotidiano, enquanto categoria de análise, ocorrerá na compreensão da cidade por meio das narrações de experiências que apresentam as vidas dos poetas urbanos da periferia que são repletas de violências causadas por diferentes mecanismos já explicitados. Suas vozes bradam o cotidiano e fazem da batalha de poesias um campo estratégico de contraponto à cidade neoliberal que não se pode consumir da maneira desejada, costurando inventividades de uso, apropriação e produção espacial.

 

Considerações finais

Este texto é uma construção tecida a partir da disciplina Teorias e concepções da modernidade: A Nova Razão do Mundo (ministrada pela Prof. Cibele Rizek), por meio da qual construímos uma proposta de projeto de pesquisa, partindo da hipótese que as narrações dos slams de poesia são um enfrentamento à lógica neoliberal de produção da cidade contemporânea. Deste modo, almejamos compreender a problemática de se ter e transmitir experiências na cidade em meio a intervenções constantes que primam por usos dos espaços urbanos com viés individualizante, mercadológico e docilizado, violentando, de muitas maneiras, aqueles que queiram usá-los diferentemente. Com isso, apostamos com esta pesquisa que narrações poéticas na cidade contemporânea, ao transmitirem suas experiências e as terem trocadas, podem enfrentar uma produção urbana neoliberal predominante, mesmo que temporariamente.

 

Por fim, acreditamos que isto ocorreria porque essas manifestações podem se articular de uma maneira inventiva, pois se apropriam dos espaços, produzindo outros usos que priorizam, majoritariamente, experiência coletivas nesses espaços, de maneira diferente da utilitária, funcional, monetizada, fazendo-nos repensar os parâmetros do direito à cidade contemporânea em meio a isso. Evidentemente, acreditamos ainda que os usos dessas práticas também podem fazer parte dos esquemas do capital, mas, de certo modo, arriscamos que suas permanências nos espaços somadas às articulações concomitantes e posteriores podem tecer outros esquemas que vão num caminho diferente dos propostos pela predominância do modo de fazer cidade.

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